Lugar de onde se vê o mar

    Sábado foi um dia escolhido para sair da rotina. Estamos vivendo o segundo ano da pandemia. Neste momento, infelizmente não podemos sair de casa com a finalidade de fazer compras ou frequentar um restaurante. Tudo está fechado: comércio, escolas, bares e shopping centers. 

 A população encontra apenas os serviços essenciais. Esta é a estratégia para conter a disseminação do vírus Covid - 19 que resolveu fazer do Brasil um epicentro. Agoniadas e ansiosas as pessoas procuram ficar em casa sem aglomerar pequenos grupos, não adiantou muito porque a maioria desobedece. Enquanto alguns jovens rebeldes são contidos nas ruas, os idosos saem apenas para serem vacinados e quem transita pelas ruas é um  sinal que são pessoas indo ao trabalho, ao médico, à casa de um familiar. 

    Neste sábado, me passou pela cabeça que deveria ter algum lugar na minha cidade onde poderia escapar da mesmice que é ficar andando pelos cômodos de meu apartamento. Sim, lembrei que em Santo André há uma Vila Ferroviária e, provavelmente, não haveria movimentação de turistas por lá apenas a atmosfera bucólica, o clima da serra, o silêncio e a natureza ao meu dispor. Convidei uma amiga para visitar a vila comigo.

    Se por algum motivo notássemos movimentação ou aglomeração voltaríamos para a estrad

a. Escolhemos o final da tarde e o sol esteve presente o tempo todo. Não foi preciso temer a cerração muito característica do local. O dia estava claro, quente, belo e propício para abrigar nossas conversas sobre a vida, sobre meditação, e tudo aquilo que nos interessa para evoluir. Fomos felizes da vida munidas de álcool em gel e nossas máscaras. Eu preparei um escondidinho de calabresa que ficou delicioso. Antes de seguirmos a curta viagem, fizemos esta refeição; foi a primeira vez que assei este prato e seria a primeira visita de minha amiga  à Paranapiacaba. 

    Nossos planos foram concluídos. Fotografamos, caminhamos, apreciamos a paisagem e curtimos a viagem de aproximadamente uma hora de distância do meu bairro. Passamos pela rodovia Anchieta, depois pela Índio Tibiriça e seguimos por uma estrada de terra antes de chegar à Vila.

    Acho incrível a existência da Vila Ferroviária onde estão vários museus, o relógio e o Castelinho. Durante o lockdown não podemos visitar as atrações, mesmo assim valeu a pena respirar o ar fresco vindo da mata atlântica preservada. Estávamos no alto da serra do mar. O distrito pertence à Santo André e é um paraíso para os motoqueiros, artesãos, curiosos, estudantes e quem curte passar uma tarde em um local que tem história para contar.

    As ruas são de paralelepípedo, ora uma ou outra de terra, as casas foram construídas ao redor do pátio ferroviário. É lindo de viver. A arquitetura peculiar inspirada nas residências e em outras construções de Londres: uma vila inglesa. Casas de madeiras, portas amplas, janelas decorativas, e uma população simpática, pessoas passavam e nos presenteava com um "boa tarde" educado e alegre.

    São Paulo Railway construiu os trajetos para fixar seus trilhos desde Jundiaí ligando esta estação ao porto de Santos.  A vila foi construída a partir do ano de 1862 pelos engenheiros ingleses James Brunlees e Daniel Makison Fox. Santo André tornou-se privilegiada, pois tem este polo turístico para atrair visitantes.

    A temperatura amena é uma das características da região. Neste local abriga lendas, uma energia diferente, tenho a impressão que se você para alguns instantes e observa as casas na rua ou alguma construção a Vila conversa contigo. Ela tem uma voz poética e musical. Quando caminhamos sobre a passarela, estamos caminhando sobre uma história e tem um silêncio nesta atmosfera quebrado por uma música do bar da Parte Alta (inclusive ouvimos uma marchinha de carnaval) ou quebrado pelo risos das visitantes.

    Com certeza ficamos por lá, pois não estavam circulando muitas pessoas. Nos alegramos subindo a ladeira, observando as cores das casas e o dourado do pôr do sol. Imaginando onde estariam as trilhas naturais para, quando a pandemia acabar, voltarmos e explorarmos a beleza da região.

    As fotos ficaram muito bonitas e acredito que as árvores, montanhas enfim aquela paisagem toda nos agradece por registrá-las e levar para outras pessoas conhecerem.

    Tomamos muito cuidado durante este lockdown. Esta fuga foi necessária para recarregar as baterias, perceber o quanto a natureza agradece quando as pessoas fazem suas pausas (mesmo que forçadas) pelo simples motivo de dar um descanso. Que descanso? Diminuindo a poluição sonora, do ar e das águas também. Em 2020 vimos como a cor do céu retribuiu quando "a Terra parou" lembra,? O céu durante o outono ficou alaranjado, lilás e oferecia quase que um agradecimento pelos centros urbanos estarem vazios.

    Este é o lado positivo que a pandemia nos trouxe, apesar da tristeza de tantas perdas e apesar de tantas notícias ruins. Seguimos em frente com nossa proteção e esperando a vacinação chegar para todos.

By Clau

   

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