O que o vento fez
O movimento urbano e o barulho do trânsito ficam afastados
dali.
Aproveitando a sombra das árvores e a beleza do gramado não
muito extenso, os moradores do bairro costumam andar em círculos para exercitar
o corpo.
Geralmente o cenário é o mesmo: pequenos cães guiados pelos
seus donos. Mulheres de porte físico atlético praticando corrida, idosos
caminhando e as risadinhas das crianças fazendo brincadeiras na areia ou
fazendo brisa com o balanço.
Uma senhora tinha acabado de caminhar e estava prestes a
entrar em seu automóvel para voltar para casa. No entanto, algo lhe chamou a
atenção. Estacionou em frente a uma casa grande. Observou um homem de idade
avançada, mas bem-disposto com uma vassoura na mão. A distância entre eles era
a própria largura da rua pavimentada e bem conservada.
O homem estava varrendo folhas, poeira e pedaços de papel.
Ele empurrou para o meio fio, despejando da calçada em direção ao asfalto esse
punhado de lixo.
E depois desceu aquele degrau na guia e posicionou a
vassoura sem dó para retirar todo aquele volume de frente de seu portão e
colocou tudo na frente da casa de seu vizinho.
Ora, o que levou este cidadão a limpar aqui e sujar ali?
Ficou intrigada com vontade de atravessar e educadamente
saber de tal atitude.
A cena lhe causou estranheza. Seria vingança? Falta de noção?
Onde está a empatia?
Tentou prever o que ele faria logo em seguida. Será que vai
recolher? Colocar em uma sacola? Levaria para alguma lixeira? Apareceu um
conhecido e conversaram. Ele apoiou o cotovelo sobre o cabo de vassoura prestes
a descansar do feito.
E deixou ali do lado na frente da garagem do vizinho o monte.
Ficou brava.
Decidiu entrar no carro e voltar para sua vida.
Quando deu a partida e, indignada, percebeu que o vento veio
forte e levou cada parte daquele amontoado para dentro da casa dele. O vento se
encarregou de levantar a poeira e como se um Saci Pererê estivesse de travessura, fez um
redemoinho engraçado.
Não ficou nada na rua e nem na calçada. O vento forte
anunciando chuva, varreu a sujeira dali deixando que aquela pessoa limpasse
novamente.
Saiu sorrindo agradecendo a natureza.
By Clau
Publicado na revista Literando em 2022
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